DESIGNA 2011 – A ESPERANÇA PROJECTUAL
Conferência anual de investigação em Design que adopta o tema do clássico ensaio de Tomás Maldonado A Esperança Projectual, com o propósito de reflectir sobre o desempenho da criatividade em tempo de crise. O evento conta com um leque de conferencistas convidados, a par da apresentação de comunicações resultantes de um ‘blind call for papers’, a publicar.
Apresentação
Tem-se desperdiçado a oportunidade de reflectir sobre a vastidão dos problemas conceptuais e operativos colocados pelo Design, considerado como processo de projecto ou enquanto um produto que acentua a dialéctica do concreto. É da consciência dessa falta que nasce a vontade de proporcionar alguma sistematicidade à reflexão, criando rotinas de encontro capazes de gerar o sentido de comunidade de prática e de dar visibilidade a este corpus disciplinar, no todo e aos seus diversos ramos especializados, que vão da arte e da comunicação à indústria. Muitos dos temas discutidos pelos designers e pelos críticos e teóricos da cultura gravitam em torno da melhoria das condições de vida e do valor estético e económico dos produtos, tangíveis ou imateriais. Ou seja, o mundo do Design raramente é alheio aos problemas concretos da sociedade, embora seja frequentemente tomado por coisa supérflua, sobretudo nos meios mais refractários à incorporação de dinâmicas projectuais ou incapazes de alocar a criatividade a determinados fins.
A Esperança Projectual (1970) veio precisamente alertar para as diversas dimensões do Design que, pelo seu pendor ético, especulativo e económico, além das tradicionais dimensões técnicas e estéticas, ou até artísticas, podiam situá-lo na charneira entre o ambiente e a sociedade, onde surge com facilidade a Utopia.
No campo do Design, a função fenomenológica aparece aliada à sígnica — a capacidade de criar alia-se à de ver –, cujas dinâmicas influem na aquisição de capacidade analítica sobre a interacção entre o entorno material e o ambiente humano. Nas sociedades de consumo, o Design aparece também entre a política e o indivíduo, pela intrínseca capacidade de dar forma ao desejo, ou seja, de racionalizar a necessidade e aculturar o prazer. Ora, estando o governo das coisas directamente ligado ao governo dos indivíduos, percebe-se melhor tanto a ambição de alguns artistas em liderarem a “revolução” como o apetite do poder pela “regulação” da arte.
Tanto na sua vertente visual como na material, o Design lida hoje com as previsões apocalípticas provocadas pela sobreprodução, pelo esgotamento de recursos e aumento de resíduos, agravadas pela rápida obsolescência dos bens, pela necessária optimização do trabalho e concomitante poupança energética, incorporando a necessidade de chegar a todos os públicos, incluindo os mais desfavorecidos. Mas se estes problemas acentuam a responsabilidade social dos designers, também têm contribuído para o desenvolvimento de estratégias de inovação capazes de lograr equilíbrios e de fornecer respostas que legitimam a progressiva desmaterialização, a racionalização do consumo ou mesmo a ordem económica estabelecida. Grande parte da paisagem humana é inexoravelmente ditada pelo Design. Pelo Design, aliás, as cidades tornaram-se objectos e factos de comunicação, quando não produtos. A imagem das cidades denuncia o confronto entre sistemas de signos e de marcas que suscitam interpretações semióticas capazes simultaneamente de contextualizar e de interpelar a ideologia e a vontade artísticas mais comuns. Esta espécie de arte popular acentuou as exigências de legibilidade e de eficácia. Chegando a provocar e agredir, permite actualizar os códigos e repertórios formais, aumentando a complexidade dos processos de comunicação.
A praxis projectual revela que a superação do estereótipo decorre da consciência crítica perante o concreto campo operativo e existencial do designer: a criação de realidade. Realidade que tem mudado a grande velocidade por força da introdução de novos meios, ligados tanto às artes performativas contemporâneas como aos meios e tecnologias de produção e comunicação, cujos interfaces não cessam de reconfigurar a experiência quotidiana.
Neste quadro, esta conferência procura responder a duas dúvidas fundamentais. A primeira será a de saber se o campo do Design (gráfico, visual, multimédia, industrial ou de moda) apresenta um lastro disciplinar ou académico comum, congregando um conjunto de pontos de vista inter e transdisciplinares, que permita continuar a pensar o Design em sentido lato. A segunda será a de perceber como pode o Design contribuir para desbloquear os impasses transversais a diversos campos da sociedade contemporânea, seja no campo cultural, social ou económico.
Pretende-se, pois, congregar um mosaico de contribuições que provenha directamente da investigação nos campos do Design e da suas teoria e tecnologia, mas também da estética, da semiótica, da antropologia, da sociologia e da cultura em geral. Pelo que se convidam todos os interessados a apresentar propostas nos seguintes painéis temáticos: 1. Comunicação; 2. Produto; 3. Teoria; e 4. Moda.
A Universidade da Beira Interior ministra neste momento seis cursos de Design, entre 1º e 2º ciclos. Dispõe de condições essenciais ao desenvolvimento de hábitos de reflexão centrados nos seus diferentes domínios. Através da DESIGNA, pretende abrir-se à rotina de cruzamento de actores de ideias, ciente de que a disseminação de conceitos é potenciada pelo trabalho colaborativo e em rede e que este depende muito da capacidade de convergência e encontro de investigadores em fora deste tipo.
Portugal precisa de Design! – A sociedade beneficia directamente do investimento criativo e a sobrevivência da indústria depende hoje da capacidade de inovação em produtos e serviços. A formação de designers favorece directamente o bem estar social, pela resposta a problemas concretos e, indirectamente, pela criação de valor que repercute no aumento da competitividade.
A par da componente científica, a conferência DESIGNA 2011 procura precisamente alertar para o facto de o investimento no talento poder ser visto como um factor de melhoria da qualidade de vida e até de resposta à famigerada crise.
Preço da edição impressa: € 17
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