Publicação de Artes

Cultura e Sensível

Qualquer esforço de cultura, num sentido operativo que este volume intentará circunscrever, ficará radicalmente comprometido, ou será, na melhor das interpretações, irremediavelmente descontinuado, se não incluir no horizonte das suas prioridades um esforço de reabilitação do sensível como dimensão autenticamente humana. A ideia de “reabilitação do sensível” conta, aliás, com uma venerável história, a qual, não sendo o objeto deste livro, reivindica uma compreensível dimensão instrumental para compreender as várias e óbvias dimensões da discussão que aqui se convoca. Com efeito, a reabilitação do sensível, na base da qual haveria de constituir-se uma doutrina nova, a Estética, quer sinalizar uma intenção de reabilitação de uma “visão integral” do homem, que não exclui ou menoriza dimensões outras que reclamam igual legitimidade e dignidade. Mas esta marcha em direção ao sensível, aqui entendida como itinerário de reabilitação da própria humanidade do homem, não se faz sem inflexões e descomedimentos vários que ameaçam instaurar novas hierarquias, relegando para a base as estruturas da Razão que ainda na primeira metade do século XVIII ocupavam sobranceiramente um lugar cimeiro. Assim, se a epígrafe deste volume parece situar o sensível no espaço de uma compreensão mais funda da condição humana, com implicações diretas na própria leitura do conceito de cultura como “esforço”, ela não exclui, antes explicitamente solicita, aquelas outras dimensões que desafiam abertamente a ideia de que a sensibilidade é uma dimensão – constitutiva – essencial do conceito de cultura. Neste amplo espaço de debate que aqui se concretiza, cabem leituras de perfil diverso, sejam aquelas que partem de uma ideia de reabilitação do sensível como reforço da omnipresença do conhecimento, sentenciando o humano a habitar um mundo cada vez mais “em superfície”, sejam ainda aquelas que leem na valorização do sensível um fenómeno imparável que nos deixa quedos perante o excesso e a profusão de estímulos de toda a sorte. Qualquer que seja a interpretação – o leitor será confrontado neste volume com diversas e instigantes possibilidades –, todos os trabalhos aqui reunidos prometem deixar um testemunho singular da importância deste diálogo plural entre cultura e sensível.

[Publicação com co-edição Praxis]

AUTORES / EDITORES

Idalina Sidoncha e Urbano Sidoncha

COLEÇÃO

Ars

ANO DA EDIÇÃO

2022

ISBN

978-989-654-800-1

Publicação de Artes

Cultura e Sensível

AUTORES / EDITORES

Idalina Sidoncha e Urbano Sidoncha

COLEÇÃO

Ars

ANO DA EDIÇÃO

2022

ISBN

978-989-654-800-1

Índice

Apresentação - A interseção entre Cultura e Sensível sob o signo do contemporâneo - 9
Idalina Sidoncha & Urbano Sidoncha

— Capítulo I - Os contextos da sensibilidade e seus efeitos no campo da cultura - 13

Poéticas da simulação. Do visível ao plausível - 15
Francisco Paiva

O papel da sensibilidade na construção das constantes da cultura portuguesa - 45
Urbano Sidoncha & Idalina Sidoncha

As crises do sentimento e a violência simbólica na contemporaneidade - 77
Martins JC-Mapera

— Capítulo II - Em direção a uma consciência (do) sensível - 89

A escuta da voz na trilha do sensível - 91
Edilene Matos

Sensibilidade e aparição: O sentimento do belo a partir da composição da aparência - 111
Renata Pitombo Cidreira

A arte: o espelho cujo reflexo desperta uma consciência sensível - 133
Luís Filipe Rodrigues

— Capítulo III - As mutações da sensibilidade na ampliação do(s) sentido(s) de cultura - 187

Vandana Shiva e a sensibilidade a uma cultura da terra - 189
Maria Luísa Ribeiro Ferreira

Estratos do sentir - 207
José António Domingues

Metamorfoses do sensível: a sensibilidade na encruzilhada entre Arte e Estética - 221
Idalina Sidoncha & Urbano Sidoncha
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