MONTANHA MÁGICA* 2019 – LIVRO DE RESUMOS
A edição de 2019 da Montanha Mágica* Arte e Paisagem vem aprofundar o escopo da 1ª edição (www.montanhamagica.ubi.pt/2018), de constituir uma plataforma capaz de articular três processos fundadores da moderna relação entre a Arte, a Cultura e o Ambiente. Desde logo, (1) evocar a Paisagem enquanto modo de ver e representar, intimamente vinculado aos processos de predicação e criação artística, capazes de revelar ou projectar atributos de um qualquer Território, exaltando-os simbólica e poeticamente; por outro lado, (2) discutir a relação dialéctica entre Natureza e Artifício, com o propósito de reflectir sobre os processos de transformação da Paisagem no tempo histórico, os seus motivos e as suas consequências; por fim, atendendo ao território montanhês actual, (3 ) promover a investigação baseada na prática artística através de colóquios, ateliers, residências, exposições e instalações in situ.
Neste encontro com a montanha, a Natureza surge com máscara humana, artifício resultante da sedimentação de processos culturais e identitários complexos, que apelam hoje a uma renaturalização progressiva do próprio sujeito. Com as suas continuidades e rupturas, planos e falhas, idas e regressos, a Montanha abre-se como um limiar de travessia e re-significação da experiência estética, resistindo à redução que o caleidoscópio mediático vem operando nos referentes paisagísticos. Sob o pano de fundo do Antropoceno, a Arte iinterpela-nos e convoca-nos para um combate ecológico essencial, reclamando com crescente premência a estética como ética e a representação como linha de fuga ao senso comum.
A analogia entre os processos criativos contemporâneos e a dinâmica diegética da Montanha Mágica que Thomas Mann publicara em 1924, torna-se mais aguda quando comparamos a suspensão temporal que vive a nossa época, em paralelo com a redefinição do tempo operada na sociedade ali descrita, a qual, estando à beira da catástrofe, nem sequer percebia estar em crise. Na Montanha Mágica coexistem os opostos, o micro e o macro-cosmos, o Paraíso e o Inferno, a Vida e a Morte, numa pulsão paradoxal que experimenta quem se aparta do mundo. A Montanha é um símbolo capaz de reconfigurar o que está para lá dela. A tuberculose que consumia o corpo, qual catástrofe ecológica à escala global, serviu de metáfora para expor e revelar a doença do espírito que o capitalismo global vinha acentuando
O ciclo de produtivismo assente na extracção de recursos naturais tem afectado muito as grandes cadeias montanhosas, dos Andes aos Himalaias, e também os Montes Hermínios. A natureza ontológica da Arte Contemporânea, com o potencial de combate à pulsão da “pós-verdade”, repercute-se nas condições de educação estética dos indivíduos, junto dos quais reforça a importância da criação artística para a assunção de uma atitude crítica perante o Mundo. Não invalidando nenhuma das suas outras dimensões, tal carácter noético da Arte poderá, enfim, libertar-nos dos trabalhos inúteis e sem esperança em que caiu Sísifo, esse herói absurdo, incapaz de terminar coisa alguma, que apenas toma consciência do seu tormento no contínuo e alternado processo de subir e descer a Montanha.
O Encontro Montanha Mágica* 2019 decorre em vários espaços e lugares, culminando no simpósio de encerramento e nas exposições, a inaugurar a 22 de Novembro. Além das actividades que decorrem na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, o programa conta com residências artísticas na Serra da Estrela, no monte Serantes, em Bilbau, e na região de Vinhais, Trás-os-Montes. A produção resulta fundamentalmente de uma parceria entre os cursos do Departamento de Artes da UBI, em especial o seu Doutoramento em Media Artes, o LABCOM – Comunicação e Artes, o Museu de Lanifícios, a Faculdade de Belas Artes da Universidade do País Basco e o Grupo de Investigação LaSIA, contando com preciosas parcerias e apoios, de entre os quais se destaca a Câmara Municipal de Vinhais e o Laboratório de Artes na Montanha Graça Morais, de Bragança. — MM*2019 © Francisco Paiva
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