Hapticotopia: existe imagem sem visão?
“Se, no presente ensaio, Rodolfo Anes Silveira analisa meticulosamente a deriva teóricoespeculativa, mas também simbólica, em torno dos fenómenos lumínicos, dá-nos igualmente uma panorâmica histórica sobre os espectros sonoro e acústico e, o que é mais raro, sobre a relação entre o tacto e a pele, sem se eximir a uma incursão atenta nos aspectos de índole física, fisiológica e somática, quiça sinestésica, decorrente dessa contaminação perceptiva, sensorial e cognitiva.
Assim, Hapticotopia, é um livro que abre naturalmente espaço a outro díptico, de grande valia operativa, crítica e até didáctica: a relação entre multisensorialidade e intermedialidade, essencial para o entendimento da diversidade de práticas artísticas contemporâneas, capaz de estimular a investigação baseada na prática, em particular nas instituições de ensino superior e nas instituições dedicadas ao fomento, criação, conservação, es- tudo e divulgação da arte do passado, presente e futura, com é o caso dos museus, cujo desempenho é abordado na segunda parte do livro.
Deste modo, socorrendo-se de um extenso manancial de informação, proveniente de múltiplas fontes e de obras tão diversas quanto heterodoxas, Rodolfo Anes Silveira ensaia, no verdadeiro sentido proposto por Michel de Montaigne (1580), uma prática reflexiva que, não se atendo às particularidades individuais, acaba por ser “uma escrita de si” que remete para a antiga dialéctica entre o particular o universal e admite a tentativa e a mutabilidade, perante a lúcida consciência da evanescência do objecto que se revela na experiência e que molda a condição do sujeito contemporâneo.”
Francisco Paiva
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